Ilha SEM fantasia

[Originalmente redigido como trabalho de faculdade de Jornalismo, posteriormente adaptado e postado no portal MULTARTE Arte e Cultura Brasileira em 2002, republico aqui este texto de minha autoria, sobre o curta “Ilha das Flores”, de Jorge Furtado]

Ilha sem fantasia

ILHA DAS FLORES, realizado por estudantes gaúchos de cinema em 1989, demonstra que é possível a criatividade com poucos recursos.

Trata-se de um premiado e festejado curta que, com uma produção modesta, constrói uma narrativa extremamente instigante no tocante ao seu conteúdo. Exatamente por isso, é uma demonstração (dentre as muitas que têm aparecido no recente cenário artístico) das mais eloquentes de como, sem recorrer a produções de porte faraônico-hollywoodiano, uma obra de arte pode ser tão bem elaborada no plano técnico e ao mesmo tempo comunicativa, sem hermetismos eruditos ou malabarismos virtuosísticos. Enfim, algo para ser entendido – e curtido.

Disponível também em versões legendadas para o inglês, francês, alemão e espanhol, ILHA DAS FLORES é uma verdadeira parábola sobre a condição humana – ou pelo menos uma de suas facetas: a de como a ausência de liberdade (i.e. a outorga ao indivíduo em particular e à sociedade em geral o direito de ir e vir, bem como o direito a uma vida em condições dignas) pode levar gente a se sujeitar a situações aviltantes em troca de uma sobrevivência quase ou totalmente vegetativa. De como o ser humano, na eterna luta pela sobrevivência, trata de se contentar com qualquer coisa ao seu alcance – até mesmo LIXO.

No plano técnico, a narrativa apresenta-se com um estilo que poderia assim ser chamado de: “irônico-didático”, com generosas doses de metalinguagem, ao “explicar” cada um dos componentes apresentados em seu desenrolar; há também características de documentário em algumas passagens, tanto que este curta costuma ser genericamente denominado como “documentário” pelos meios afora. Da aparente miscelânea nonsense, entre conteúdo e partes nele envolvidas (incluindo personagens de carne e osso), vai-se gradativamente fazendo surgir uma ideia comum: a de como a sociedade de fato, mesmo não se conhecendo os indivíduos, encontra-se envolvida em uma mesma questão – a do direito a uma existência digna.

Há na obra uma intensa relação sonoridade-imagem, com elementos repetitivos e encadeados entre si, em um continuum – ou seria talvez “crescendo social?” – que leva ao desfecho da reflexão final sobre a condição humana, via Cecília Meireles (“Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”). Apesar dos momentos jocosos, hilariantes até, a narrativa vai gradativamente conduzindo o espectador a uma conclusão final, que é séria. E tudo isto em apenas 12 minutos de duração.

Apesar das técnicas empregadas nesta película serem de uso corriqueiro em productions do tipo Walt Disney, ILHA DAS FLORES (que bem poderia servir de título a uma produção desse porte) pode ser considerado como um magnífico ANTI-DISNEY… Sem a costumeira pieguice que assola tais produções. Um verdadeiro colírio artístico para aqueles que, como eu, acreditam que bom cinema não depende de grandiloquências hollywoodianas para tornar uma obra perene: a velha fórmula da “câmera na mão e uma ideia na cabeça” ainda funciona.

Iracema Brochado

Brasília, DF, 15/03/2002


ILHA DAS FLORES [Ficha técnica]
Brasil, 1989 (35 mm, 12 minutos, cor)

Direção: Jorge Furtado
Produção executiva: Monica Schimiedt, Giba Assis Brasil e Nora Goulart
Roteiro: Jorge Furtado
Direção de fotografia: Roberto Henkin e Sérgio Amon
Direção de arte: Fiapo Barth
Música: Geraldo Flach
Direção de produção: Nora Goulart
Montagem: Giba Assis Brasil
Assistente de direção: Ana Luiza Azevedo
Uma produção da Casa de Cinema de Porto Alegre
Elenco principal: Paulo José (narração) e Ciça Reckziegel (Dona Anete)

Sinal dos tempos (alegoria) #instant #artesvisuais #artenasruas #cenaurbana

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panorama… atual

Desde que ouvi esta música pela 1ª vez em plena Rádio Mundial, esta canção do Erasmo Carlos nunca perdeu sua atualidade; pelo contrário, é daquele tipo de obra dotada da estranha e significativa propriedade de ficar cada vez mais atual, á medida que os anos passam.

Juntamente com Mercy Mercy Me (The Ecology), de Marvin Gaye, esta canção aborda o problema do desequilíbrio ecológico – e sua consequente queda na qualidade de vida -, em uma época que tais preocupações ocorriam de forma um tanto vaga em cabeças pensantes, como uma espécie de louca utopia pessimista.

Sobre a canção de Erasmo, de tão boa e atual, sua letra pode ser analisada por si mesma sem a necessidade da melodia, apreciada como um poema – com sua ironia sutil em antepor a (eterna) busca de “perfeição” do gênero humano à crescente degradação ambiental – e, por extensão, da qualidade de vida de todas as coisas vivas – em volta:

Lá vem a temporada de flores
Trazendo begônias aflitas
Petúnias cansadas
Rosas malditas
Prímulas despetaladas
Margaridas sem miolo
Sempre-vivas quase mortas
E cravinas tortas
Odoratas com defeitos
E homens perfeitos

Lá vem a temporada de pássaros
Trazendo águias rasteiras
Graúnas malvadas
Pombas guerreiras
Canários pelados
Andorinhas de rapina
Sanhaços morgados
E pardais viciados
Curiós desafinados
E homens imaculados

Lá vem a temporada de peixes
Trazendo garoupas suadas
Piranhas dormentes
Sardinhas inchadas
Trutas desiludidas
Tainhas abrutalhadas
Baleias entupidas
E lagostas afogadas
Barracudas deprimentes
E homens inteligentes.

Por fim, a canção de Marvin Gaye, com a respectiva letra.

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leituras (i.e. estudo)

Algumas leituras das matérias que estou cursando no semestre – na forma de livro, enquanto outras estão na forma de textos xerocados já comecei a adiantar, se bem que a segunda forma é empregada apenas como último recurso, em um esforço para economizar grana! Quanto ao resto, a biblioteca ajuda. Por sorte, já tenho alguns dos livros, comprados há vários anos aos poucos, em um esforço para montar uma biblioteca filosófica minimamente aceitável.

Este semestre consistirá em uma viagem em voo de pássaro sobre os diferentes sistemas e tradições filosóficos, o papel do saber histórico-filosófico e uma análise estrutural das produções filosóficas, além de uma assimilação das noções de Lógica tal como utilizada no campo da Filosofia.

UPDATE 05/11: em um esforço para obter fontes de credibilidade, foi-me recomendado hoje este excelente blog, “Não Gosto de Plágio”. Vale a pena tê-lo à mão, como ferramenta defensiva, a começar por esta postagem que enumera (ANTI)referências bibliográficas. (e mais esta!) Vale a pena também acompanhar outro blog, Livros e Afins, com respectivas páginas Facebook e Google+ (ver links no próprio blog).

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preparativos para o semestre

Hoje, nos preparativos para a matrícula nas disciplinas do meu curso para o próximo semestre – que será o meu primeiro -, ao acessar o site, constatei já haver obtido 44 dos 148 créditos exigidos.

Isto, por haver aproveitado matérias anteriormente cursadas na Universidade, há muitos anos… Sendo que duas das disciplinas já cursadas são OBRIGATÓRIAS no meu curso atual: resquícios de um interesse pela área de Filosofia que já havia começado a delinear-se à época, agora devidamente aproveitados.

É o tal negócio: alguma coisa sempre se aproveita.

(Abaixo, foto da minha visita à exposição do pintor barroco italiano Caravaggio. Não foi permitido aos visitantes, porém, filmar ou fotografar as obras – por motivos de direitos autorais; e cada grupo de visitantes só podia visualizar a exposição por apenas 10 minutos. Mas foi bom por representar uma rara, talvez única, oportunidade de se ver a versão da Medusa Murtula, de propriedade particular, por mim considerada o ponto forte das 6 obras ali expostas).

#Caravaggio ‘s #exhibit

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a inveja é… (recapitulação)

The heart of a jealous person burns when he sees others in a more prosperous condition. He tries his best to bring them disrepute and goes to any length to harm and even destroy them. Even those who seek God and live in caves, often fall victim to this evil quality and lose sight of their high aim in life.

Sri Swami Sivananda

Eis um pequeno ensaio a respeito da inveja, preparado como trabalho de classe durante o período em que cursei a Especialização em Artes Visuais. A propósito, o vídeo foi elaborado tendo este artigo como ponto de partida – e, sobre o trabalho do curso, uma postagem anterior deste blog também discorre.

 

Por fim, algumas declarações de Ayn Rand a respeito.

Sei não… Acho que esse tipo de inveja SEMPRE existiu, desde que o mundo é mundo. Eu diria apenas que a mídia-má-feia-e-bobona e suas técnicas – cada vez mais sofisticadas, nestes dias e tempos ditos modernos- entra como mero AGRAVANTE do processo, jogando “gasolina” à “fogueira” (das vaidades, bem entendido).

UPDATE 02/10: E, a julgar por certas atitudes presenciadas… Para certas pessoas, parece mais fácil morrer de “invejinha” dos outros a admitir as próprias limitações (e, por tabela, sua própria incompetência). Se bem que, certa vez, já me disseram que “INVEJA É UMA ADMIRAÇÃO AZEDADA”…

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nova etapa na vida

Ao que tudo indica, este blog terá um bom motivo para atualizar-se com mais frequência, pelos próximos 4 anos (creio!): passei no último vestibular da Universidade de Brasília para Filosofia, a qual será cursada como uma segunda graduação (antigo projeto de vida). O resultado foi divulgado pelo CESPE no dia 13 último – significativamente, uma sexta-feira. “Significativamente”, sim, uma vez que sextas-feiras 13 sempre foram dias no mínimo normais, para mim; esta, então, tornou-se especial em minha vida. Fui para as provas sem ter feito cursinho algum – pelo puro e simples motivo de falta de numerários, tendo contado apenas com a internet para me preparar, por todos esses meses. Sim, se você se disciplinar um pouquinho, internet pode ser uma poderosa aliada nos estudos.

Se eu não tivesse passado agora, talvez na próxima tentativa eu fizesse vestibular para Artes Plásticas, outra área de meus interesses – já que tenho uma carreira na área desde 1983. Mas, estou super-satisfeita, por ser Filosofia uma área de interesse TAMBÉM, igualmente de longa data =)

A única coisa pela qual terei de aguardar com paciência de Jó (e COMO tento!) – juntamente com algumas centenas de aprovados como eu – será o prazo para efetivar o registro como aluna da instituição, prazo que encontra-se em suspenso por causa da greve que assola todas as federais do País.
Por enquanto, o recado que dou é o seguinte: nunca é tarde para realizarmos nossos objetivos, ou para reconstruirmos nossas vidas (o que vem a ser meu caso… Mas é uma longa história). Mesmo se você fracassar em tentativas anteriores, como ocorreu comigo anteriormente, não desista. Afinal, Sri Swami Sivananda já disse, um dia:

If you attempt to develop your will you should always try to maintain a cool head. You should keep a balanced mind under all conditions. You may fail in fifty attempts, but from the fifty-first endeavour you will get strength of will. You will slowly manifest balance of mind. So never get discouraged.

P.S.: o detalhe é o de que, se havia falhado em tentativas anteriores, foi pelo fato de não estar suficientemente centrada em meus objetivos e estratégias adotadas – mas desta vez foi diferente.

Kinda #doodle quilt

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reflexão

Não faço parte dessa estética, digamos, escatológico-forense que tomou conta de determinados segmentos da arte contemporânea. (E os incomodados, que se incomodem – ui!)

Se de um lado pretendo reformular meu próprio relacionamento com a Arte (“puxar uma DR” com a mesma talvez, como dir-se-ia nestes dias e tempos), não significa que eu não tenha o direito de escolher o caminho ou linguagem nos quais me identifique mais.

E, na escolha que faço, sinto mais liberdade para criar e relacionar-me com a vida, as pessoas e a própria arte, refletindo-se a mesma liberdade na disposição para viver.

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relatividade

Se uma criança de 3 anos de idade apodera-se de alguns lápis de cor, ou de um punhado de giz de cera de cores variadas, ou de alguns potes de guache, e põe-se rabiscar-borrar a parede da sua casa… Aí todo mundo fica estressado, paga-se sapo para a pobre criança (“Veja só o que você fez!”) etc.

Agora, se um adulto faz a MESMA coisa em papel, tela ou o que for – até mesmo em uma parede! -, e ainda floreia a sua criação com uma elaborada explicação do seu “processo criativo” (de preferência como um discurso o mais críptico possível, de cunho filosófico-metafísico), então é “arte”, é “GENIALIDADE”, ou o que mais queira a panelinha de basbaques denominar. Ah sim, ia me esquecendo: se puder, o adulto em questão ainda atribui à sua “obra” um título de igual cunho hermético-metafísico, para conferir o toque de “genialidade”; a panelinha sempre adora.

Este é o mundo da arte contemporânea tal como ela se apresenta por aí – onde até materiais como cocô já foram elevados à categoria de “obra de arte” (uma autocrítica deste “sinal dos tempos“, talvez?).

HUMOR, pessoal 😀

P.S.:

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Large Hadron Collider

Dando continuidade ao post anterior (sobre o despertar do meu interesse pela Física, após um período de longa hibernação), eis algumas imagens – salvas em fomato PNG, apesar da “cara de Autocad” – obtidas pelo aplicativo LHSee, através do qual pode-se monitorar os eventos do Large Hadron Collider (LHC), o colisor de partículas destinado a desvendar, entre outros aspectos, elementos referentes à própria origem do Universo.

Pelo aplicativo pode-se, entre outras características, “brincar” de procurar o Bóson de Higgs (moderna versão do Santo Graal, talvez?). Por enquanto, LHSee – gratuito – é exclusividade da plataforma Android (até surpreendeu-me que não exista versão para iOS).

Às vezes tenho a impressão de ver no LHC uma reconstituição de algo já discutido em escritos milenares – e não se trata de “viagem na maionese” por esoterismos de boutique, do tipo New Age: falo em sistemas filosóficos.

In search of the #higgsboson

E, para dar o toque musical a este post: as respectivas versões original (em inglês) e em Português do Rap do LHC.

depois da hibernação

Curiosamente, o fato de ter tido apenas maus professores de Física pelos níveis fundamental e médio afora não afastou de todo meu interesse pela área – interesse que pode haver “hibernado” por longos anos, mas jamais enterrado. Tanto que tenho alimentado um incomum interesse pela Física ultimamente, que nem imaginava ter um dia.

E nem maus professores conseguiram impedir.

Se bem que o interesse, além de científico, é também FILOSÓFICO – e não tão discrepante, como possa parecer; haja vista a filosofia grega como matriz de várias ciências que se desenvolveram com o passar dos séculos – somando-se aos enunciados de alguns sistemas filosóficos orientais (nestes, sua VERDADEIRA gênese) mais antigos.

Mas talvez explique isto mais tarde; não agora. Não, não estou esquivando-me de nada: apenas tratando de elaborar as ideias.

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